Moinho do Cabril:
Na margem esquerda da ribeira dos mil nomes, vou-lhe chamar ribeira do cabril, já que cada um lhe chama o que quer pelos diferentes mapas que tenho visto, mais conhecida como ribeira do Carvoeiro, situado a cerca de 400m a jusante do pego negro, situa-se o moinho do cabril.
Possuía dois conjuntos de mós e dois rodízios, um normalmente para milho e centeio e outro para trigo, ambos movidos a água, conduzida através de uma levada com origem num açude localizado a apenas 70 m a montante, levada escavada na rocha ou improvisada com muretes de pedra local, que conduzia a água e a distribuía através dum sistema de comportas madeira até aos rodízios, ou a rejeitavam no curso de água, dependendo da necessidade.
Além das pedras (mos), era composto da moenda onde se deposita a o cereal, o cubo onde a água afunilava para o rodízio, o pejadouro que cortava a água do rodízio, a calha era roda que regulava a entrada de grão na pedra e as chapas em volta das pedras chamadas cambeiras, obrigavam a farinha a sair na abertura.
Possuía ainda algumas construções de apoio para pernoita de pessoas e animais.
Desconhece-se quem o construiu e exatamente em que época. Possivelmente em finais do séc. XIX por famílias do Vilar da lapa (apelido "Motas" proprietários dos terrenos) e várias outras do Vale da Mua. Tinha vários proprietários e usuários cada um com o seu "quinhão" (quota parte de tempo para poder moer).
Funcionava ainda em meados dos anos 80, acabou por terminar com a extinção dos últimos milharais do Vale do cabril, etc...
Segundo foi possível apurar tinha como últimos proprietários de quinhão conhecidos: Vilar Lapa: Maria Mota, Delfim. Vale do grou: António Mota, Zé Mota e Luis Mota. Vale da Mua: Ti Adelino, Ti Zé Maria, Belmiro de Matos, Ti Zé Serrinho, e o meu estimado avô Severino Martins Pinheiro com o qual ainda tive o prazer de lá ir moer cereal "a cavalo" no seu macho que serpenteava a trilha estreita e íngreme carregado mas quase sem ajuda, conhecia exatamente onde colocar as patas em cada cm!
Possui junto a sua entrada uma nascente de água potável com qualidade sem precedentes, que ajudava a refrescar quem se aventurava ao caminho por aquelas bandas, algo frequente principalmente no verão em passeios dos habitantes de Vale da Mua e de outras aldeias, palco de pic nic / pescarias, etc...
Possui à sua frente uma interessante escarpa, com as cores clássicas das paredes rochosas da zona e por vezes abrigo de aves de rapina entre outros animais. Corrijam-me se estiver errado mas ainda tinha telhado em 2017, que acabou por ruir com o incêndio de finais de Julho!
Texto: Luciano Mendes em @CentroCulturaleSocialValedaMua
Creditos : Agostinho Pinheiro