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As pesqueiras do rio Tejo na Ortiga são exemplares raros de uma arquitetura paisagística única resultante da secular relação com o rio nesta aldeia piscatória do concelho de Mação, resultante de engenhosas técnicas de construção com o xisto que bordeja as margens do Tejo nesta zona. Sendo um património secular, o seu estudo, das estruturas e de todo o património imaterial associado, deve continuar de forma rigorosa, contribuindo assim para a sua salvaguarda e conservação, mas também valorização e musealização a céu aberto.
Devolvendo à comunidade um valioso património para o estudo da sua identidade ribeirinha e piscatória. A potencialização deste património é o caminho da sua sustentabilidade.
Um estudo de caráter patrimonial evidenciará o seu valor arquitetónico, arqueológico, etnográfio, didático, ecológico e estético.
Estudo esse que por sua vez deverá integrar o conjunto de dinâmicas culturais associadas: envolvendo nestas tanto os aspectos materiais, como as técnicas de construção das pesqueiras, dos barcos “picaretos”, mas também as técnicas da pesca na Ortiga, bem como os aspectos imateriais como a gastronomia típica desta vila ligada à intensa pesca no rio Tejo, os ditos e falares da população referindo o Tejo, os hábitos de higiene pessoal, entre outros, sem esquecer a outrora riquíssima variedade de espécies de peixes, vegetação, aves que constituem a paisagem tagana neste trecho do rio Tejo.
O presente trabalho discorre sobre as pesqueiras como elemento arqueológico e etnográfico integrado na paisagem do rio Tejo nas margens da Ortiga enquanto património cultural associado à intensa exploração piscícola do rio pelas populações desta aldeia, numa lógica de desenvolvimento integrado e sustentável que tem na sua memória material e imaterial uma âncora identitária.
É notável o saber e engenho na sua construção, singular nesta zona, que obriga a saberes de construção, mas também a um profundo conhecimento do rio e suas correntes naqueles percursos de água para adequadamente orientar a construção da pesqueira e dela tirar o almejado proveito piscícola.
Existem de facto bastantes estudos sobre as pesqueiras do rio Minho, existem diversos estudos sobre pesqueiras noutras zonas da Europa, mas do Tejo e especialmente da Ortiga temos a publicação de um dos signatários deste trabalho (Filipe, 2012) como principal fonte pioneira de informação.
São construções visando a pesca com assento na margem do rio Tejo, mediante a utilização da varela, da savara ou do redão, sendo que neste último caso a pesqueira servia de apoio ao barco “picareto”, no qual estava instalada a verga e o sarinho necessários a este tipo de pesca.
Sem obstaculizar a circulação dos barcos no rio, contrariamente ao que acontecia com as pesqueiras nos restantes rios nacionais, estes empreendimentos visavam criar condições, na veia de água do rio, que promovessem a formação de uma corrente de água contrária à do veio central –criar o designado remanso da pesqueira –por forma a atrair as espécies piscícolas que no seu natural processo de arribação, visando alcançar as zonas nobres de desova procuravam evitar a forte corrente do veio central do rio e encontrando uma corrente mansa e favorável logo a aproveitavam.
As pesqueiras criavam, assim, as condições ideais para a captura do peixe pelo recurso à varela, à savara e ao redão, funcionando estes aparelhos como autênticas armadilhas.
A existência das pesqueiras é secular. Já no Séc. XVI, quando do grande projecto Filipino de tornar navegável o rio Tejo, Juan Baptista Antonelli responsável técnico pela execução dos trabalhos transmitiu orientações aos responsáveis espanhóis de Alcântara, no sentido de que nos caminhos de sirga “ ... empesqueren... “ a construção ...” e mais “ ... que esenladrillardos com pizarras de canto...” . Acresce que esta técnica de construção, designada em Ortiga como de “ pedras ao alto “, somente encontramos nesta zona do rio Tejo.
Demonstrando a importância das mesmas, como factor económico, ainda no Séc. XVII, encontra-se bem documentada e fundamentada uma petição apresentada pelos donos das pesqueiras ao rei Filipe II, em 30 de Agosto de 1602, contra uma decisão da Câmara de Abrantes envolvendo a sisa dos pescadores.
Na margem direita do Tejo, desde a foz do Rio Frio à barragem de Belver, pese os seus diferentes estados de conservação identificamos, ainda hoje, 22 pesqueiras
(Fonte: Drª. Sara Cura e Dr. João Filipe – Museologia de Mação)
Ortiga
Pesqueiras do Tejo, entre a Barragem e a Foz do Rio Frio
1 - NOVA
2 - BARBUM
3 - CHAPARREIRA
4 - MONTERVA
5 - CAETANA
6 - VÁRZEA LONGA
7 - RABO LONGO
8 - CAIADA
9 - NICOLA
10 - BOCA DA ALAGOA
11 - TAGARELA
12 - CRISTOVÃO
13 - MOUROUÇO DE CIMA
14 - MOUROUÇO FUNDEIRO
15 - BOAVISTA
16 - CARACOL
17 - CANTARRÃO
18 - BARREIRA
19 - FILIPA
20 - ABERTAS
21 - PIÇARRINHA
22 - PIÇARREIRA
23 - MINGALHÃO
24 - CABREIRA
25 - CASTANHO
26 - SALGADA
27 - CALDEIRA
28 - PENEDO BRANCO