Fonte situada na aldeia de Queixoperra
FONTES E TRADIÇÕES – QUEIXOPERRA
“Antes do abastecimento público da água à aldeia de Queixoperra, todas as pessoas tinham de ir à fonte buscar água para matar a sede, cozinhar, lavar a loiça, para a higiene pessoal, para os animais. A água era um bem essencial que não podia faltar em casa.
Tarefa maioritariamente feminina, eram muitas as mulheres e raparigas que se encontravam na fonte, todos os dias, aproveitando para conversar até que os cântaros se enchiam. Era também um ponto de encontro nessa época para os rapazes solteiros encontrarem as raparigas, havendo o truque de roubarem as rodilhas para ficarem mais um pouco à conversa e talvez lhe cedessem um beijo em troca do objecto roubado.
Na minha aldeia, todos os anos a fonte era enfeitada pelo São João. Os rapazes e as raparigas iam buscar rama de eucalipto e fetos para fazer sombra durante os meses de verão e enfeitavam-na com balões, cadeados e harmónios. Em volta da bica a correr água, era posto um arco feito com murta, São João, cravos e uma campela. Dizia-se ainda que a água na noite de São João, antes do nascer do sol era Santa. Então as mães iam buscar água e benziam os filhos na cama, alguns até choravam porque a água estava muito fria.
Além da fonte da Bica, com data de 1926, existiam mais duas fontes: a Fonte do Cerejeiro e a Fonte do Ribeiro, sendo esta de mergulho.
A minha mãe fez o percurso entre a sua casa e a Fonte da Bica, durante muitas décadas, sempre com o cântaro à cabeça, sem precisar das mãos par o equilibrar. Só quando as forças lhe faltaram, deixou de fazer este percurso.”
Excerto do livro “A CASA DA MINHA AVÓ” de Lurdes Vicente (Queixoperra).