TRADIÇÃO DO MASTRO NA FREGUESIA DE CARDIGOS
Em agosto de 2016, o povo da RODA (Cardigos) decidiu recuperar uma velha tradição que era comum em muitas aldeias da freguesia de Cardigos: o levantamento do mastro.
A memória popular refere que a tradição é muito antiga e que começou numa época em que uma peste flagelou toda a freguesia excepto as aldeias da Roda e Casalinho em virtude de promessa que as populações fizeram à Santíssima Trindade de todos os anos celebrarem uma missa se as ditas populações ficassem livres daquela doença. Há quem defenda que a peste seria a pneumónica de 1918. Assim aconteceu e começou a tradição. Todavia, a peça em chapa que representa o galo tem gravada a data de 1879 pelo que é de supor que a tradição de levantar o mastro será anterior. Desde então, o mastro tem sido levantado em alguns anos e, anualmente, a população não se tem esquecido de mandar celebrar a dita missa na capela do Divino Espírito Santo, em Cardigos, na segunda-feira seguinte à festa.
No ritual do levantamento do mastro, a primeira etapa é a reza de uma oração em louvor de Santo António para que ninguém seja magoado no içar do mastro, após a qual o dito é levantado. Mastro erguido, é rezado um pai-nosso e uma avé-maria a S. Sebastião solicitando o afastamento da “peste, da fome e da guerra.” Cerimonial concluído, manda a tradição que se comam tremoços e se beba um “copinho”…
Na verdade, o que já se perdeu na memória dos povos é que a tradição é muito anterior ao século XIX e vem desde a Idade Média, assim como a ladainha: “Da fome, da peste e da guerra, livrai-nos Senhor!” (Tratava-se das aflições da crise alimentar, da Peste Negra e da Guerra dos 100 anos, no século XIV. Foi também nessa época que apareceu a “Salvé-Rainha”.)
Em outras regiões e supomos que aqui também embora as pessoas não tenham disso consciência, o levantamento do mastro estava ainda relacionado com a virilidade masculina que era solicitada com o “levantamento do pau” e o galo, lá no cimo, tem esse significado. Tal como o galo é macho único na capoeira e “assiste” todas as fêmeas, assim se apelava a vigor sexual semelhante para os homens da aldeia com o objectivo de perpetuarem a comunidade.
Uma tradição antiga que se mantém na memória colectiva das gentes da freguesia de Cardigos, com especial incidência na Roda, na Lameirancha e nos Casais de São Bento.
(António Manuel M. Silva)